domingo, 24 de junho de 2007

Solidão


Tão só. Tão só eu. Nesse côncavo escuro e silencioso. Só algumas ondas de som retumbando de fora. Amor: só se par da incompreensão.


Só, é sempre a condição. Nas várias telas do observatório: big brother de mim, me vigiando. De mim, só a chuva de vendas sobre outrem. Só, sempre o só.


A Morte, à espreita, com seus vidrinhos tilintantes e um a dose única na mão, pede licença sob o calor escaldante de fora da humanidade. Eu tilinto só os dentes, não deixo entrar, ainda. Só se for ela, só, e seu machado, Machado de Assis.

quarta-feira, 20 de junho de 2007

Libido e intelecto

O pensamento é tão estranho. Tão genérico. Vagueia, como o próprio ar, quase onipotente.

O pensamento tem células, que se entrecruzam. Batem, explodem, formam esferas, às vezes galáxias isoladas.

Transforma-se. Entope todas as veias e artérias. Chega à morte.

O pensamento sempre morre, antes de erotizar-se.

sábado, 9 de junho de 2007

Culpa (sexo etc e tal)

Falar sobre isso é necessário. A culpa se alimenta de signos lingüísticos e de seus sons. E cada um deles, limitados, parecem milhos de pipoca jogados às pombas.

Antes da fala, os passos, os balbucios, a própria existência. Assim a culpa se perfaz na interrupção de outras existências. Nascer é culpa.

Não quero eu que os meus morram antes de mim. Talvez a morte, culpa mais pesada que a existência. Como carregarei o fardo: morte em vida?

Aqui, uns escritos soltos: mal pensados e rasos, como a literatura nova toda. Não nasci para aperfeiçoar-me. A cada passo meu, o peso na consciência pelo anterior. Pra frente: cada vez mais pesado, lento, quase derradeiro.

Cada dia uma letra. Uma sensação diferente. Uma vontade. Um desalento. Uma sede. Hoje a da contenção: letra reprimida. Autorizo apenas o especialista a contornar essas vagas reminiscências com palavras vivas: Literatura.

Sem a culpa. Sem mea. Depois da minha morte.

segunda-feira, 4 de junho de 2007

Fotografia

22/05/2007

a L. e T., meus sobrinhos.

Contorno do céu. Dois rostos juntos. Um pequeno e outro pequeno-grande. Não há separação, nem desentendimento. Um sorri de malícia, outro se desespera de uma pseudo-orfandade.

Careço de tê-los. A imobilidade me cansa, esse quase não-pulsar.

A vida uma sucessão de coisas e eles ali olhando, não saem do lugar. Sinto que me olham de vez e me renovo, e percebo que projeto o pequenino olhar. Outro se esquiva, sempre. Nem parece que me atende.

Queria bater na porta desse retrato. Entrar e ser, sem mexer. Eles não respondem.