quinta-feira, 17 de maio de 2007

Arte e loucura: protesto

Se arte é tudo que se diz, e nos meios mais altos, venho, por meio desta, reclamar participação da loucura em tal categoria.

Em si, a loucura encerra recepção e gênio. Cria e descria, talvez não benfazeja, mas cautelosa. Isso quando evoca o mundo e a sua essência.

E mais ainda: tão social. Conteúdo e forma. O ateliê de qualquer lugar, qualquer hora. Bispo, dama, estudante, pobres moças. Quase um autismo, mais, arte que fala: com as mãos, com a voz, com acessos.

A loucura é arte. Toda amparada nos mais altos conceitos. Aqueles que vêm no meio da noite, e transformam em artista o pobre insone. Também encerra em si conteúdo arte. Tão docemente poéticas as palavras. Ou concretas. Reais. Eróticas. Imagéticas.

Arte-loucura é previsão de cultura. É cultura encerrada. Voz do povo. Voz do intelecto. Cenário figurativo do microcosmo mundo. E em cada desnorteio, cada palavra solta, ilusoriamente despropositada, anestesia, já proposta a poética.

E vai à loucura, arquiteturalmente: forma, conteúdo, tempo concreto e argila, moldável, lenta, leve e vagarosamente.
Reclamo à loucura o direito de ser arte. Reclamo da arte o negar a loucura. Reclamo ao polvo-receptador o agarramento arte-loucura. Que não precisa de técnica. Que não precisa de meio. Arte pura. Não pela arte, pela loucura.